Dia de São Caetano: conheça a bateria de proteção do flanco leste da Ponta Grossa

05/08/2022 01:35

O sistema defensivo da Ilha de Santa Catarina, construído há quase 300 anos, chegou a ter mais de duas dezenas de construções para proteger a região[1]. Parte delas, ainda está de pé: são as fortalezas e os fortes ainda preservados. Mas muitas outras construções são hoje ruínas. Esse é o caso da Bateria de São Caetano, um complemento defensivo da Fortaleza de São José da Ponta Grossa, no norte de Florianópolis. Às vésperas do Dia de São Caetano, celebrado em 7 de agosto, resgatamos a história do primeiro ponto estratégico português tomado pelos espanhóis na invasão de 1777.

A Fortaleza de São José da Ponta Grossa foi construída pelo Brigadeiro José da Silva Paes a partir de 1740. Como estratégia militar, essa era uma das fortificações que deveriam proteger o acesso à baía norte.

O brigadeiro também construiu outras três fortalezas: Santa Cruz de Anhatomirim, Santo Antônio de Ratones e Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba – essa última no sul da Ilha de Santa Catarina. Em 1749, Silva Paes retornou a Portugal.

Com o passar dos anos, o sistema inicial de defesa idealizado pelo brigadeiro ganhou mais construções. Em 1765, foi edificada a Bateria de São Caetano, distante cerca de 200 metros da Fortaleza de São José da Ponta Grossa, bem próximo à Praia de Jurerê Internacional (veja no mapa). Era uma construção com murada, guarita, casa da pólvora e alojamento de soldados[1].

A bateria – que tem esse nome por reunir um conjunto de artilharia – foi logo armada de seis canhões[1]. O governo local português, sob comando do Capitão Francisco de Souza de Menezes[3], apostava que a construção resolveria uma fragilidade da Fortaleza de São José da Ponta Grossa.

Os portugueses temiam que, se o inimigo marchasse vindo do leste (da hoje Praia de Jurerê Internacional em direção à Praia do Forte) sem encontrar qualquer barreira, não haveria como impedir que as tropas agressoras chegassem a uma posição mais elevada do terreno, bem atrás da fortaleza.


Uma vez que alcançassem esse local, chamado de padrasto[1], poderiam instalar por ali sua própria artilharia e atacar a Fortaleza de São José da Ponta Grossa pela retaguarda. Se isso acontecesse, os portugueses não teriam condições de responder ao fogo inimigo.

Em 1777, quando os espanhóis invadiram a Ilha de Santa Catarina, sob o comando de Dom Pedro de Cevallos, a Bateria de São Caetano foi a primeira construção tomada pelos inimigos.


Na madrugada de 23 para 24 [de fevereiro de 1777] desembarcaram [os espanhóis] na Praia de Canasvieiras, mais para o lado de Ponta da Canas, encobrindo-se da artilharia do Forte de São José da Ponta Grossa[2], pela Ilha do Francês. Não houve o rumor de um só tiro de fuzil. Ali havia o Forte de São Caetano[2], que, armado de seis canhões e bem municiado, podia fazer um fogo de través, varrendo a praia, fazendo tropeços ao invasor. Mas a guarnição, depois de ver a deserção de seu chefe, tenente do Rio de Janeiro que se passou para o lado dos espanhóis, bateu em retirada e foi refugiar-se no Forte de São José da Ponta Grossa[2].

Maria Bernardete Ramos Flores,
no livro Os espanhóis conquistam a Ilha de
Santa Catarina, 1777, da Editora da UFSC.


Os espanhóis tomaram a Bateria de São Caetano e depois a Fortaleza de São José da Ponta Grossa sem que fosse disparado um só tiro. Os portugueses bateram em retirada sem enfrentar a guarnição de Dom Pedro de Cevallos, visivelmente em maioria esmagadora.

Uma a uma, as construções do sistema defensivo passaram ao controle espanhol até que os invasores tomassem a Vila de Nossa Senhora de Desterro. Depois, por força de tratado, a Ilha de Santa Catarina retornou ao controle português.

Ruínas da Bateria de São Caetano

A Bateria de São Caetano é hoje um conjunto de ruínas e um bom local para visualizar a Praia de Jurerê Internacional. Faz parte do conjunto da Fortaleza de São José da Ponta Grossa, bem tombado como patrimônio histórico nacional em 1938.

 

Fontes & notas

[1] De acordo com o livro As defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786 de José Correia Rangel, dos organizadores Roberto Tonera e Mário Mendonça de Oliveira, da Editora da UFSC.

[2] Em algumas literaturas, incluindo alguns mapas da época, as fortalezas e outras construções – como as baterias – são tratadas como “fortes”.

[3] De acordo com o verbete Bateria de São Caetano da Ponta Grossa, do Banco de Dados Internacional sobre Fortificações – fortalezas.org.

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