Dia Nacional do Futebol: Anhatomirim fundou seu time antes de Figueirense e Avaí

19/07/2022 07:09

Quando o futebol começou a chegar em Santa Catarina, no século XX, Anhatomirim não quis ficar de fora. Antes mesmo da fundação dos populares clubes da Capital em atividade até hoje – Figueirense Futebol Clube (1921) e Avaí Futebol Clube (1923) –, os “marujos” que davam guarda na ilha vestiram seus uniformes desportivos. Em 1919, nascia o Anhatomirim Foot-Ball-Club, nas cores vermelha e branca[1]. Neste Dia Nacional do Futebol, comemorado em 19 de julho, resgatamos esta história de quando a bola também virou coisa de “marujo”.

Em notícia veiculada em 5 de abril de 1919, a edição n° 155 do jornal República dava conta que “um grupo de marujos, adeptos do Sport Brethano,”[2] havia fundado o Anhatomirim Foot-Ball-Club. Naquele ano, o esporte mais popular do Brasil ainda estava chegando a Santa Catarina e enfrentava dificuldades e preconceitos.

Ainda em 1919, o então secretário de Interior e Justiça do Estado, José Boiteux, tentou proibir a prática nas escolas públicas. A alegação era de que o futebol não era um esporte adequado ao desenvolvimento físico dos estudantes, segundo “parecer de notáveis higienistas”[3].

Mas a polêmica não impediu que, em 1919, surgissem clubes por Santa Catarina. São desse ano: Marcílio Dias e Almirante Barroso, de Itajaí; e Brasil, de Blumenau[4]. O Anhatomirim, também de 1919, tinha como diretor Albano de Souza Lucio, um dos fundadores do Clube 6 de Janeiro e que hoje empresta seu nome a uma rua do Bairro Estreito, em Florianópolis[1].

Quando fundado, o Anhatomirim tinha elenco para dois times, de acordo com o jornal República[2]. A notícia veiculada no periódico sugere que os “marujos”, como muitos clubes da época, adotavam o esquema tático clássico, também chamado de “pirâmide”.

Isso quer dizer que o elenco entrava em campo com dois zagueiros, três meias ofensivos e cinco atacantes. Por conta dessa distribuição, o esquema ficou conhecido como 2-3-5. Tal tática vigorou entre clubes e seleções com mais frequência até a Copa do Mundo de 1938[5], disputada na França.

Mas essa não seria a única tática do Anhatomirim. Há uma espécie de lenda a respeito dos jogos na ilha, uma que não prezava muito pelo fair play.


 Fora de casa, o Anhatomirim era mansinho. Quando estava em seus domínios, porém, o couro comia. O time jogava na ilha homônima, onde os portugueses construíram uma fortaleza para proteger a Ilha de Santa Catarina (a parte insular de Florianópolis). Fazendo jus ao nome – ‘pequena ilha do diabo’[6], em tupi –, a equipe local tocava o terror. Os adversários eram avisados que, se ganhassem, suas embarcações seriam colocadas à deriva, impedindo seu retorno. Entre voltar a nado ou pernoitar lá, arriscando a topar com algum fantasma das lendas da área, os visitantes acabavam amolecendo nos confrontos. Não à toa, bastou que policiais começassem a acompanhar as delegações e que o juiz fosse um militar para que a fase boa do Anhatomirim terminasse.

Almanaque do Futebol Catarinense,
de Emerson Gasperin e Zé Dassilva,
da 4-3-3 Produções, na página 23.


 

Fosse como fosse, a “fase boa” do Anhatomirim, se realmente existiu, não ficou fartamente documentada. Em um dos poucos registros, consta que, no campeonato de 1925 da Liga Santa Catarina de Desportos Terrestres (LSCDT), o Anhatomirim simplesmente desistiu do embate contra o Avaí, em novembro daquele ano[7].

Os pontos foram para o Leão da Ilha, mas quem se sagrou campeão foi o Externato, em uma campanha invicta[4]. O futebol do Anhatomirim Foot-Ball-Club ficou para a história.

 

Fontes e notas:

[1] Conforme o blog Arquivos do Futebol Brasileiro, informações disponíveis neste link, acesso 17 de julho de 2022.

[2] Página 3 da edição n° 155 do jornal República, de 5 de abril de 1919. Disponível no Banco de Dados sobre Fortificações – fortalezas.org.

[3] Conforme noticiou a imprensa da época, segundo consta na página 19 do Almanaque do Futebol Catarinense, de Emerson Gasperin e Zé Dassilva, da 4-3-3 Produções.

[4] Conforme o Almanaque do Futebol Catarinense, de Emerson Gasperin e Zé Dassilva, da 4-3-3 Produções.

[5] De acordo com o verbete Esquemas táticos do futebol, da Wikipédia, disponível neste link, acesso em 17 de julho de 2022.

[6] Embora seja famosa a denominação de Anhatomirim como “a pequena ilha do diabo”, tal nomenclatura é contestada por alguns estudiosos.

[7] De acordo com o blog Arquivo Azul, informações disponíveis neste link, acesso 17 de julho de 2022.

 

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